quarta-feira, 9 de março de 2022

 

A APANHA


É geralmente no mês de Junho que o bunho é ceifado com foices ou gadanhas, por homens e mulheres sempre com água abaixo do nível do joelho.
Puxa-se depois pelas pontas para o separar de outras plantas que crescem junto deste. Espalha-se em forma de leque para possibilitar a sua seca­gem. Passados alguns dias volta-se para secar do lado contrário. E escolhido e atado em molhos. Encontra-se pronto para ser utilizado pe­los artesãos.

- o bunho encontra-se pronto para ser trabalhado; http://fnaviladoconde.blogspot.com/

O ARTESÃO







Diz-nos o Sr. Matias Domingos, que crianças guardando gado próximo de terrenos pantanosos, começaram por brincadeira, envolvendo "mãos-cheias" de bunho com astes do mesmo. Formaram assim feitas rodelas. Aos poucos foi-se descobrindo novas e aperfeiçoadas uti­lidades para esta descoberta popular. A rodela foi trabalhada e deu ori­gem ao tanho, banco simples e confortável.
É com base no tanho que se constrói a maioria das peças de mobiliário de bunho conhecidas até hoje. Pelo mesmo processo, envolvendo astes de bunho ern torno de "mãos-cheias" do mesmo e rematando com o nó de bunheiro conseguem-se outras formas, sempre possíveis de se modificarem.Ao artesão cabe assim aproveitar a perfeita moldagem e a am­pla resistência que o bunho oferece, criando assim peças que para além do seu lado utilitário, nos oferecem ainda, o artesanato maispuro e mais rico. http://artesanatomadeirabunho.blogspot.com/

ARTE DO ACASO OU NECESSIDADE


Como era toda a temática do bunho, também para esta pergunta não existem registos que nos permita responder. Pensa-se no entanto que o primeiro objecto surgiu por necessidade.
Devido ás suas qualidades de macieza e resistência, o bunho aparece desde á muito tempo, ligado á "feitura" de esteiras, utilizadas como colchão. Era o seu uso vulgar, sobretudo nas regiões agricolamente mais desenvolvidas. Acompanhando as deslocações dos trabalhadores, ou sendo fornecidas pelo proprietário da fazenda, as esteiras revelavam-se de uso pratico e económico.
Serviu também o bunho para cobrir ou formar cabanas e ainda para cobrir salinas.

SURGIMENTOS-MITOS E REALIDADES



O Sr. Matías Domingos é actualmente o único artesão que trabalha o bunho, no concelho de Santarém. Natural do Secorio, o Sr. Domingos recebeu do pai a herança do mobiliário de bunho.
"O pai do meu bisavô, ainda criança, guar­dando gado nos campos próxi­mos da margem do Tejo, come­çou por fazer rodelas de bunho muito imperfeitas. Quan­do regressava das terras, trazia-as enfiadas num pau. Ne­gociava então com as muiheres da aldeia que lhe oferciam meio tostão por cada uma, para comprar tremoços. Começou então a aperfeiçoar a rodela, transmitindo os conhecimentos adquiridos, aos seus descendentes."
Hoje o Sr . Matias Domingos é o único desta família de bunheiros, a di­fundir os conhecimentos des­te oficio.
Esta é a versão do Sr. Matias . Sabe-se no entanto que os Avieiros (pescadores do distrito de Aveiro), que se deslocavam ao Tejo para pescar, também já possuíam conhecimentos sobre o bunho. Terá sido, a arte do bunho no concelho de Santarém, uma arte do acaso? Terá tido esta arte influencias dos Avieiros?
A verdade é que neste concelho, só esta familia manteve a funcionar até ao momento, a indústria do bunho.

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